domingo, 12 de dezembro de 2010

Manifesto Jovem


José Reinaldo*

Há um desejo geral, um sentimento que é comum a todos nós. Há uma esperança que não dorme e que não nos deixa ficar de braços cruzados diante do grande desafio de mudar o mundo mudando mundos individuais. Comungamos da mesma oração, do mesmo projeto ousado, que muitas vezes se apresenta como “alucinações” e que não sabemos distinguir ao certo, mas que nos cativa, tanto aos que estão perto quanto aos que estão longe. É o mesmo som todas as manhãs, o mesmo clamor que vem de dentro, como um grito desesperado de uma mãe que está prestes a colocar um filho no mundo: “Revolução já”!

É preciso deixar as idéias fluírem pelo rio comum da compaixão e do amor concreto de Deus. É necessário que as nossas “alucinações” diárias se convertam em projetos palpáveis e exeqüíveis que revelem a ação de jovens engajados com a causa do Reino de Deus e comprometidos com essa sociedade. É de vital importância que compreendamos o valor do sagrado na face esfarrapada dos excluídos e, mais que isso, precisamos ver o Cristo a resplandecer de gratidão no ato transformador de nossas mãos em favor do próximo. Por isso, chega de ritos e liturgias paralisantes. Não queremos mais uma fé institucionalizada que aprisiona e aliena. Chega de burocracias eclesiais e formalidades no trato com o Deus-homem que está perto de todos os que o invocam em verdade. Damos um basta ao amor que tem hora e lugar para acontecer. Que a norma e a forma não emperrem a ação criativa dos que lutam pela mudança. Destruam os templos e edifiquem corações santos já! A igreja local deve pensar a comunidade a sua volta. Ela deve propor soluções criativas para os problemas de uma sociedade corrupta e superficial. A igreja local deve ser o núcleo de iniciativas em favor das pessoas e não um clube social cujos membros se encontram todos os finais de semana para uma celebração vazia de significados. Chega de uma fé apartada da vida social e das debilidades humanas. A presença da igreja no mundo deve fazer sentido aqui e agora e não depois.

Eis o convite da inconformação para respondermos a um século que tenta nos moldar segundo os seus preceitos. Eis a convocação para uma luta a ser travada no terreno do cotidiano árido de nossas vidas. Eis o desafio para deixar o nosso caminho seguro e nos achegarmos àqueles que estão à margem dessa estrada.

Enquanto jovem, não quero que essa oportunidade se perca! Não quero que os anos passem e revelam o quão bom eu poderia ter sido se fosse um pouco mais corajoso e abnegado. Não quero que essa oportunidade passe de mim e só me reste o lamento por aquilo que não fiz.
Antes que os dias difíceis cheguem e se aproximem os anos sombrios; antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro; antes que o senhor dos talentos retorne e me cobre o que devo; antes que minha candeia se apague e a noite me alcance... Antes que o futuro me engane e se torne um passado distante, eu quero me lembrar e dizer sim ao chamado de todos os dias. Digo sim à vocação que é feita a partir da realidade cruel de injustiças e opressão, um chamado que vem do sofrimento dos pequenos e do clamor dos órfãos. Digo eis me aqui à voz que me chama do olho do furacão e me convida ao envolvimento integral com os seres humanos.
Que o amor seja mais que um discurso, que se torne uma causa. Que nossas reuniões sejam mais que uma aglomeração sem sentido, que se tornem momentos de escuta àquilo que o Senhor deseja. Que a Bíblia além de ser um livro sagrado se torne carne e sangue, palavra transformadora que flua em nós e para fora de nós. Que a adoração deixe de ser uma mera repetição de canções e se torne um estilo de vida. Que a nossa ação para além dos muros supere a distribuição de cestas básicas e sopões, pois a sociedade tem fome e sede de justiça!

Portanto, o que precisamos é de uma revolução do coração, pois a mudança tem de acontecer de dentro para fora, impactando o mundo. Ora, e o que seria mais impactante do que um coração acolhedor, livre e comprometido com Deus e com pessoas reais?


*Presidente UMP/2011 1ª Igreja Presbiteriana de Taguatinga