Aqui vemos a incredulidade lançando suas
sombras sobre o espírito de Abraão,
afastando-o do caminho da fé na palavra
de Deus. Eis que o senhor me tem impedido
de dar à luz. Estas palavras revelam a
impaciência e a ansiedade usuais decorrentes
da incredulidade. No caso especifico de
Abraão, ele deveria ter considerado o que
Deus tinha dito e, deste modo, esperar
pacientemente no Senhor, o cumprimento
da promessa graciosa.
O coração, naturalmente, prefere tudo,
menos esperar. Lançará mão de qualquer
expediente, qualquer plano, qualquer
recurso, em vez de aguardar firmemente
o cumprimento da Palavra de Deus. Uma
coisa é crer numa promessa, outra coisa
é esperar a sua realização.
A palavra grega diástema indica o intervalo
de tempo entre o inicio de um desejo até
vê-lo realizado. O significado desta palavra
pode ser exemplificado na vida de uma
criança. Se você prometer ao seu filho
alguma coisa, ele com certeza, não
duvidará da sua palavra, contudo, você
verá o quanto ele andará agitado e
ansioso até que você cumpra o prometido.
Entre os adultos tal coisa também acontece.
Ninguém pode dizer que nunca se comportou
como uma criança. Vemos que no capitulo 15
Abraão evidencia sua fé: E creu ele no Senhor,
e imputou-lhe isto por justiça. Gênesis 15:6.
Todavia, no capitulo 16, falha ao exibir sua
impaciência: E ouviu Abraão a voz de Sara.
Abraão creu, porém, falhou por não esperar.
Aqueles que estão no "terreno" da fé, isto é, os
que confiam suas vidas às mãos do Senhor,
devem saber que a confiança está intimamente
ligada ao conhecimento experimental que o
coração tem de Deus. A nossa apreciação,
bem como a nossa confiança em Deus
dependem do nosso conhecimento Dele.
Em ti confiarão os que conhecem o teu nome:
porque tu, Senhor, nunca desamparaste o que
te buscam. Salmos 9:10.
No entanto, as palavras de Sara ao dirigir-se à
Abraão revelam o quanto ela desconhecia
o Senhor: "O Senhor faltou-me; talvez que a
minha criada egípcia possa servir de meu
recurso". Tudo serve - menos Deus - para
um coração que está sob a influência da
incredulidade.
É verdadeiramente "admirável" vermos as
ninharias às quais recorremos quando
perdemos a noção da Graça de Deus, da
Sua fidelidade infalível e de Sua
indubitável suficiência. Quando perdemos
de vista tudo isto, perdemos aquela
condição calma e tranqüila tão necessária
às nossas vidas e, começamos a dar
preferência a expedientes ou, recorremos
a meios que consideramos convenientes
para atingir nossos objetivos.
Porém, coisa amarga é nos afastarmos do lugar
de absoluta dependência de Deus.
As conseqüências são certamente desastrosas.
Se Sara tivesse dito: "a natureza faltou-me, mas
Deus é o meu recurso", como tudo teria sido bem
diferente! A natureza - quer velha quer jovem -
é a mesma para Deus. Quando a nossa atenção é
desviada do Centro, que é Deus, somos compelidos
a experiências desastrosas.
Quando Deus faz uma promessa Ele não a
vincula a qualquer reciprocidade. Ele a
cumprirá incondicionalmente, e a fé
descansa Nele, em perfeita liberdade de
coração. Deus não necessita de qualquer
contribuição da "natureza" para cumprir
Suas promessas. Ele é Auto-suficiente e
por isso, não precisa do nosso auxílio.
Assim sendo, quando nos achamos
"assentados aos pés" do nosso Senhor
podemos deixar de olhar para qualquer
meio natural: E aconteceu que, indo
eles de caminho, entrou Jesus numa
aldeia: e certa mulher, por nome Marta,
o recebeu em sua casa; E tinha esta uma
irmã chamada Maria, a qual, assentando-se
também aos pés de Jesus, ouvia a sua
palavra.Marta, porém, andava distraída
em muitos serviços; e, aproximando-se,
disse: Senhor, não se te dá de que minha
irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me
ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe:
Marta,Marta, estás ansiosa e afadigada
com muitas coisas, mas uma só é
necessária; E Maria escolheu a boa parte,
a qual não lhe será tirada. Lucas 10: 38-42.
O caminho da fé é um caminho muito simples
e muito estreito. Por um lado, não exalta os
meios; por outro, não os despreza. Existe uma
grande diferença entre o emprego que Deus faz
da criatura para servi-lo, e o emprego que
fazemos do serviço para excluirmos Deus.
No caso de Marta, ela usou o serviço para excluir
o Senhor. Então, onde está a diferença entre Marta
e Maria, se as duas serviram ao Senhor? Marta
serviu ao Senhor do jeito dela, e Maria serviu
ao Senhor do jeito Dele. Adão agiu de forma
semelhante, uma vez que, após a queda, tentou
ser aceito por Deus à sua maneira – do seu
jeito. Temos também o caso de Abel e Caim.
Ambos trouxeram suas ofertas, mas a de Caim
foi rejeitada. Rejeitada por quê? A experiência
se repete. Caim tentou agradar ao Senhor do
seu jeito. No texto que escolhemos como base
para este estudo, podemos verificar que Sara
também agiu do seu jeito e, o resultado foi
desastroso.
O que significa o chamamento de Marta? Marta,
Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas.
Ao chamar a atenção de Marta, o desejo do Senhor
era libertá-la do fervor "natural" – do fervor da
carne. O Senhor quer nos libertar do nosso jeito de
servi-lo. Isto significa que precisamos ser reduzidos
a uma só coisa. O que significa uma só coisa?
Conforme o texto, significa: estar "aos pés de Jesus".
O Senhor não precisa de "Martas"na Sua Igreja.
Isto também fica claro pelo fato de ter Jesus
chamado a atenção de Marta. Marta, Marta,
representa a visão natural. O Senhor não faz
uso dos nossos "dons ou talentos" naturais.
Tudo isto tem que ir para a Cruz. Mas, podemos
perguntar: Quem, então, serviria ao Senhor?
A resposta: As "Marias". Vamos repetir a frase:
Marta serviu ao Senhor do jeito dela, Maria
serviu ao Senhor do jeito dEle.
Marta usou o serviço para excluir o Senhor.
Deus usou os corvos para suprir as necessidades
de Elias, mas Elias não os empregou para excluir
Deus. Maria serviu ao Senhor do jeito Dele, isto
é, Maria foi servida pelo Senhor. E qual foi o jeito
que o Senhor achou para servir Maria? No descanso,
assentada aos pés do Senhor. O coração que está
verdadeiramente confiado em Deus não cogita lançar
mão de seus próprios meios. Apenas espera Nele, na
doce certeza de que, por quaisquer meios que Lhe
agradem, Ele abençoará, proverá e suprirá todas as
coisas.
Maria assentada aos pés de Jesus ouvia a Sua
Palavra. Então, vamos servi-Lo no descanso.
De que maneira Paulo serviu ao Senhor? No
descanso da Graça: Mas pela graça de Deus
sou o que sou; e a sua graça para comigo
não foi vã, antes trabalhei muito mais do que
todos eles; todavia não eu, mas a graça de
Deus, que está comigo. I Corintios 15:10. Toda
ação no serviço ao Senhor, seja na pregação,
no testemunho ou na adoração, deve ser Na Graça.
Há muita coisa sendo dita e sendo feita em
nome do Senhor, sem nenhuma conexão
com Ele. Por isso, se alguém nos diz o que
devemos fazer para sermos salvos ou, que
devemos fazer isso ou aquilo para nos
santificar, não devemos acolher tais sugestões.
"Estas coisas" simplesmente roubam o lugar
de Deus. Roubam a Glória que só é devida a
Cristo.
Se a salvação, ou nosso andar com Deus
depender de: Sermos ou fazermos alguma coisa,
estaremos inevitavelmente perdidos. Graças a
Deus, não é assim, porque o principio fundamental
do Evangelho é que: CRISTO É TUDO EM TODOS.
O homem NADA é. Não há qualquer possibilidade
de mistura entre o homem e Deus. É tudo de Deus
– do começo ao fim. A paz do coração não se assenta
em parte na obra de Cristo e, em parte, na obra do
homem. A nossa paz descansa inteiramente na obra
de Cristo.
O que o nosso Senhor realizou naquela Cruz foi
uma obra perfeita – perfeita para todo o sempre.
A boa nova revelada nas Escrituras nos assegura
que, o que Deus fez por nós e, em nós, é uma
obra simples, perfeita e incondicional. Não
precisamos acrescentar ou agregar nada ao que
é perfeito.
Porém, os falsos mestres querem transtornar tudo.
Querem confundir, querem roubar a Glória de
Deus; querem negar a Graça e o Senhorio do nosso
Senhor Jesus Cristo, conforme está escrito:
Porque se introduziram alguns, que já antes
estavam escritos para este mesmo juízo, homens
ímpios, que convertem em dissolução a graça de
Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor
nosso, Jesus Cristo. Judas 1:4.
Em Cristo encontraremos o perfeito descanso.
E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe
será tirada.