quarta-feira, 28 de abril de 2010

Confusão na Adoração - retrato de nossa época




O que poderia ser motivo de unidade, hoje nos afasta.
O que poderia ser um caminho de aliança, hoje faz romper;
o que poderia ser motivo de edificação, faz ruir;
o que poderia ser caminho de testemunho, impede incrédulos de
enxergar e conhecer o cerne do evangelho!
O que poderia exaltar a pessoa de Jesus, exalta pessoas,
ministérios
e “pequenos reinos”.
Adoração confusa marca nossa época presente, refletindo a falta
de ensino bíblico e interpretações estranhas das Escrituras!

Nelson Bomilcar


Algumas décadas atrás, a igreja brasileira sofreu algumas divisões
provocadas por entendimentos diferentes quanto à doutrina do
Espírito Santo e a adoração. Na adoração e louvor, as divisões quase
todas se deram por uma análise das “posturas externas”. Uns
levantavam a mão, outros não, uns diziam aleluia, outros não, uns
batiam palmas, outros não, uns dançavam, outros não, uns falavam
em línguas, outros não, uns eram informais nos cultos públicos, outros
não, etc.

Nossa adoração pública era influenciada por movimentos
musicais que refletiam situações específicas vividas por algumas
pessoas ou algumas igrejas em seus países de origem. Recebemos
heranças que, não há como negar, os missionários trouxeram para
a igreja brasileira, e muito foi absorvido sem questionamento ou
uma análise mais profunda. Por exemplo, dizia-se que não se podia
usar música popular nos cânticos e hinos, e não nos dávamos conta
que nossos hinários estavam repletos de músicas populares
acrescidas com letras de temática bíblica ou cristã.

Tivemos a influencia de Ralph Carmichael, Otis Schillings,
Salomão Ginsburg, Kurt Kaiser, Beverly Shea (das cruzadas
de Billy Graham), do ministério Maranatha Music, das cantatas
de Peterson, etc. Em seu pano de fundo, refletiam momentos com
ênfases doutrinárias vividas pela igreja na América do Norte. A
igreja brasileira, ainda sem uma identidade na adoração,
simplesmente absorvia estes modelos e produções, muitas delas
de excelente qualidade musical e teológica, outras nem tanto.

Fomos nos tornando mais rebuscados na adoração e em
nossas manifestações artísticas, ao mesmo tempo em que se
confundia adoração somente com música. A igreja estava
desmobilizada para a adoração pessoal e comunitária, vivia-se
de apresentações musicais onde as pessoas “assistiam” os
chamados “serviços de culto”. A tentação de copiar modelos
era grande, a busca por novidades era intensa e não tínhamos
muitos mentores que pudessem ajudar a igreja brasileira a
crescer nesta compreensão da adoração.

Por isso que trabalhos como o do Pr. João Souza Filho,
Gottfriedson, Asaph Borba (na época na Seara Latina Evangelística),
Jairinho e Paulo César (na época na Palavra da Vida), Vencedores
por Cristo, tornaram-se referenciais para muitos. E graças a Deus,
bons referenciais. Fomos abençoados por eles.

A busca por modelos e novidades que vêm de fora continua
como característica da igreja brasileira nestes dias. Uma geração
mais enfraquecida em sua compreensão bíblica, pois quase
desapareceram os mestres e pastores que pregam a Bíblia
expositivamente, preocupados e cuidadosos em ensinar o que
ela diz, considerando as linguas originais, contexto, regras
básicas de interpretação bíblica, etc. Conseqüentemente, o
povo está menos habilitado a discernir e avaliar o que estamos
ouvindo e vendo, fazendo o filtro fundamental de “reter o que
é bom”.

Infelizmente, em nossa geração consumista, instantânea
e internética, que cultua a “imagem”, que “clama” novidades
o tempo todo (Ron Kenoly e Graham Kendrick já são vistos como
ultrapassados, imaginem só!), não buscamos os caminhos de
simplicidade na adoração conforme ensinado por Jesus. Ele que
nunca se iludiu ou se iludirá com manifestações e aparências
externas na forma de religiosidade (Isaías 1) ou de eventos
megalomaníacos para a mídia.

O lugar esquecido da adoração, continua sendo o coração
do homem, quebrantado, humilde e que reconhece a necessidade
existencial e espiritual de conhecer, se entregar e andar com Cristo
Jesus para de fato poder adorar a Deus (João 4:20-28). Enquanto
isso, trabalhos musicais aportam numa velocidade incrível
em nosso país, disseminando e despejando suas idéias e convicções
sobre adoração, algumas bem pontuais, circunstanciais, e baseados
na experiência ou revelações recebidas, de uma ou duas pessoas.

Tenho participado de um número enorme de encontros,
retiros e congressos, onde, em nome de “contribuir” para a visão
da igreja brasileira, colocam-se pessoas de todas as tendências,
estilos e pensamentos diferentes, para que, como num grande
supermercado, escolhamos a linha ou visão a seguir. A idéia é:
“consuma o que desejar e for pertinente para a sua realidade”.
Quase no slogan do comercial conhecido em nosso país
“experimenta, experimenta, experimenta”.....

Ao contrário de maturidade, abertura de mente e humildade,
isto reflete nossa insegurança e imaturidade em não balizar caminhos
saudáveis para a adoração através do que a Bíblia realmente ensina,
isto é, numa exegese mínima aceitável.

Demonstra também uma grande fragilidade dos chamados
líderes de adoração (termo que precisa também ser definido e
explicado), que não ajudam as pessoas a discernir o que é bíblico
e pertinente para a adoração. Falta-nos coragem de dizer o que
cremos ou pensamos de fato e alertar sobre enganos que temos visto.

Em nome de uma “unidade cosmética”, refletida em muitos
palcos, ficamos em nossos cantos, vendo proliferar idéias e
manifestações perigosas; algumas altamente manipulativas e
humanizadas, e não colocamos a cara para bater falando, exortando
e alertando dos perigos que alienam as pessoas de uma adoração
que deve estar presente na vida, no cotidiano, no dia a dia, no
silêncio, nos relacionamentos, onde ninguém vê ou está olhando,
sem rádio e TV .

Percebemos uma igreja que é altamente desmobilizada,
por exemplo, na prática da ação social e ministério do socorro,
adoração prática recomendada por Tiago (Tg 1.27). Onde estão
as “reuniões poderosas de adoração” no serviço em favelas,
hospitais, cuidando dos meninos e homens de rua, na
evangelização e obra de missões, que transformam pessoas e
realidades sociais? Onde está a adoração que abraça causas
humanas e de justiça? Isto não passa nem de perto na
compreensão de vários ministérios e líderes de adoração que
caminham em nosso país.

Ouve-se sobre adoração profética, sem se definir o que
significa adoração e o que se quer dizer com profético. Como
se ouve tanta coisa sobre isto, e mal explicado, quase como
um jargão, a confusão se instala. Usam-se de forma inadequada
o termo profético e a palavra profecia.

O retorno ao louvor hebraico como pré-requisito na
adoração,“parece” o caminho mais seguro ou divino, mas
é um engano; busca-se então, um modelo de louvor
chamado extravagante (precisamos buscar as bases
bíblicas
sobre o que é isto), Outro caminho trilhado
tem sido a chamada “adoração no e do “mover” (quem
conseguiu
mapear a ação do Espírito que sopra onde
quer, ninguém sabe de onde ele vem e nem para onde
vai?)
. Outras ênfases sobre “posturas” do adorador tem sido
veiculadas, quase como mudança de hábitos ou comportamento,
e não de transformação interna e pessoal, etc.

O Pai continua a procura dos que o adorem em espírito
e em verdade. Como igreja, precisamos sempre do ensino e
compreensão bíblica sobre adoração; o caminho está aberto
para os mestres, pastores, e os que ministram louvor em nosso
país que tem seus ministérios reconhecidos. As pessoas estão
olhando para estes referenciais, e, portanto, temos que ser mais
prudentes.

Esclarecer e não confundir, ajudar as pessoas comuns a
encontrar e adorar a Jesus na singeleza e simplicidade da
vida, na meditação, na oração, na comunhão, na missão, na
contemplação, e não em ritos mágicos, em oráculos e modelos
decifrados por alguns especialistas e privilegiados dos “mistérios”
da adoração.

Há uma grande responsabilidade sobre os que ensinam
em ajudar a igreja brasileira a entender, expressar e viver a
adoração em todas as suas dimensões. A capacitação sem
dúvida é do Espírito Santo.Temos boas influências que vêm
de fora de nosso país, cabe-nos orar, ouvir, discernir com
sabedoria e mútuo conselho, e reter o que é bom, segundo
a revelação da Palavra de Deus.


Nelson Bomilcar escreveu para Provoice e Genizah divulga.

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